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quarta-feira, 22 de março de 2017

Segurança Publica e a Reforma da Previdência - A Causa ou a Consequência?


Esta onda crescente de insegurança, tem remetido a sociedade em geral a debater o assunto segurança com mais enfase. 

Sem entrar muito no debate de segurança, faço esta postagem para relatar na minha opinião uma das causas do aumento gradativo da criminalidade. 

Primeiro quero citar uma memorável frase do sempre Mestre Darcy Ribeiro: - "Se os governantes não construírem escola, em 20 anos faltará dinheiro para construir Presídios" - Esta frase foi dita em 1982! A Profecia vem se confirmando a cada dia....

Mas quero também citar uma outra frase, esta de minha autoria: - "Enquanto o Traficante for mais Sedutor que o Professor, o resultado será sempre assustador"

Este pequena introdução sobre a questão da Educação como uma vertente para a criminalidade, é só para mostrar que a consequência é sempre desesperadora, que hoje falar que bandido bom é bandido morto não irá resolver em nada a questão da criminalidade. Uma sociedade onde os salários são baixos, a individualidade se sobressai ao coletivo, onde a educação é precária terá sim um aumento significativo e gradativo de crimes. Um País que enxerga e condena somente quem comete assaltos, mas é incapaz de condenar todos que cometem crimes de lesão ao estado, estará sujeito sim a uma criminalidade latente....

Mas o que isso tem haver com a Previdência?

Chris DS
DIGA NÃO A REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Assim como a questão da educação, a questão do emprego (e ai incluo valorização, estrutura, salários, retornos e aposentadoria), esta ligado diretamente no aumento da criminalidade. Um jovem que esta vendo as suas expectativas de futuro quase inexistirem por causa deste sistema a qual chamamos de Capitalismo, pode ser facilmente seduzido pelo Traficante. Pois é mais fácil e rápido o ganho financeiro no crime, do que cumprindo de 8 à 10 horas diárias de trabalho durante 1 mês.

Esta reforma que se pretende fazer na Previdência, e também na questão das terceirização, remete a um futuro que infelizmente prevejo varias vezes pior da existente. Pois esta se tornando cada vez menos atrativo trabalhar de Carteira Assinada, e a prova disso que o setor que mais cresce é os de serviços e os de profissionais Liberais.

A Reforma da Previdência, ao meu ver, é uma Privatização remodelada, que jogará cada vez mais os Trabalhadores na busca por Previdências privadas, já existente no Brasil a muitos anos.

Imaginem, que motivação um trabalhador tem de trabalhar sabendo que alem de receber uma baixa remuneração (que até melhorou muito no mandato do Lula), com jornadas que segundo a reforma trabalhista poderá aumentar, e sem a expectativa de uma aposentadoria que lhe permita aproveitar a vida, conforme prevê a reforma Previdenciária? Alem da questão da Terceirização..... Esta cada vez mais complicado.... ser Trabalhador no Brasil.

"A gente não quer só comida
a gente quer comida
diversão e arte
A gente não quer só comida
a gente quer saída 
para qualquer parte..."
(Titãs)

Não tem como debater a Segurança sem associar a questão da Educação e Trabalho. Por mais que precisemos de medidas urgentes para sanar ou amenizar o problema agora, sair por ai matando todos os bandidos, ou construindo presídios, ou então intervenções policiais e militares não irão resolver a questão que é de cunho Social.... precisamos mais do que nunca atacar o problema na raiz... Pois sem atacar a causa, não teremos resultados reais....

O pior que na contrapartida, este governo pós-golpista, não apresenta reformas referentes a questões aos privilégios e salários dos detentores de mandatos, não apresenta projeto de reforma dos cargos de confiança, não apresenta medidas que quebre privilégios de banqueiros e especuladores financeiros. Pois acredito justamente que este governo esteja profundamente comprometido com estes, o que lhe impede de mexer onde realmente se deve mexer. "Precisamos resolver o problema financeiro do Brasil... mas não por quem pode pagar, mas sim pela grande massa trabalhadora". Esta é a lógica deste governo, e deste sistema, onde a massa trabalhadora é que arca com tudo, para beneficiar uma minoria Privilégiada que sugam como parasitas a essência da humanidade

Isso não nos difere das eras medievais, onde os Reis aumentavam os impostos do artesões para suprir sua necessidade de vida boa nos palácios... Enquanto os nobres desfrutavam de seus privilégios o povo pagava a conta.

Por isso precisamos dizer NÃO a Reforma da Previdência, precisamos dizer não a tudo que nos mantem as margens e acabam beneficiando só a casta mais rica desta Sociedade. Pois assim como a Educação, esta também será responsável por toda esta criminalidade crescente...

Não basta só atacar a Consequência, é preciso atacar a Causa...

Para finalizar esta postagem, transcrevo o desabafo da grande amiga de minha família, colega da minha esposa, que postou no face o seguinte texto. (transcrevi com fidelidade as palavras)



Por Fabi Lemos

Que coisa REPUGNANTE esse governo,que vergonha realmente estamos vivendo últimos tempos de tragédias e se não bastasse querendo tirar os nossos diretos,quer dizer que eu que estou hoje com 17 anos de carteira assinada Sem parar um mês e que iria me aposentar aos 47 anos estou por fio de perder meus DIREITOS??

Quer dizer que agora esse cidadão nojento quer com essa reforma na previdência aumentar para 65 anos ?? E nada contra meus colegas homens....Mas igualar a mesma idade para os 2? Sendo que nos MULHERES se matamos em casa com os afazeres com nossos filhos??? E mais na nossa jornada de 8 horas? 

Quer dizer que agora pra minhas filhas se aposentaram com 65 anos vão precisar começar aos 16 anos?? Sendo que isso será IMPOSSÍVEL pois todo paí quer seu filho primeiro estudando e se formando!!! 
E detalhe pra AINDA conseguir isso não pode falhar um mês de contribuição. ...doenças?? Impecilhos da vida? Não pode acontecer pq aí vai ter mais de 70 anos e ai não vai nem USUFRUIR! !!!
ME pergunto querem melhorar a nós TRABALHADORES? 
Que triste pessoas de cabeça fracas vão desistir de trabalhar e mais ainda os de cabeça mais fraca ainda vão roubar pq trabalhar é cansativo e nunca vão receber seus direitos! !!
Governo SUJO ano que vem tomara que todos nós possamos tirar essa CORJA DE LÁ.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Ecossocialismo e Bem Viver como princípios para um outro mundo possível - Por Marcelo Soares

Por Marcelo Soares*

Retomada Mbya Guarani de Maquiné (RS). Foto: Andre Benites
“Acho que devíamos devolver este país para os índios”.

Quem nunca viu ou ouviu esta frase, principalmente em momentos de crise como agora, em que não vemos alternativas ou projetos de país e tanto as elites como as esquerdas transformaram o Brasil em um imenso vazio de significados.

Pior que a grande maioria das pessoas que faz este desabafo não tem um compromisso real com a defesa dos povos indígenas e muitas vezes é cúmplice do genocídio sofrido por eles ao longo dos mais de 500 anos da nossa história.

Mas o que parece uma solução mágica e irrealizável pode originar uma reflexão sobre a origem desta crise econômica, política e mesmo civilizatória em que estamos metidos. E esta origem tem nome: é o capitalismo com suas contradições e ciclos, com sua lógica do lucro custe o que custar, mesmo que esse custo seja nossa própria sobrevivência enquanto espécie.

E nos últimos anos tem crescido no campo das esquerdas o debate sobre o bem viver, o sumak kawsay em kichwa, ou teko porã em guarani, como uma possibilidade de construção de outro tipo de sociedade, sustentada em uma convivência harmoniosa entre os seres humanos e destes com a natureza.

A partir da luta dos povos bolivianos e equatorianos, que se consagrou nas novas constituições destes dois países, o bem viver deixou de ser uma solução utópica e um modo de vida característico de comunidades indígenas, tidas como selvagens em contraposição ao nosso modo de vida civilizado, para se constituir em uma alternativa para a desconstrução da matriz colonial que esteve na base da organização econômica inclusive dos governos progressistas das últimas duas décadas na América Latina, com a ênfase no extrativismo que ameaça justamente os povos indígenas e as suas terras.
O próprio presidente do Equador, Rafael Correa, em um debate sobre a Lei da Mineração daquele pais, afirmou: “A mineração é fundamental para a era moderna. Sem ela, regressamos à época das cavernas. Não podemos cair na irresponsabilidade de ser mendigos sentados sobre um saco de ouro.” (1)

Esta declaração reflete uma concepção de desenvolvimento que esteve na base da grande maioria dos governos de esquerda e mesmo socialistas, a qual prioriza o desenvolvimento das forças produtivas como geradora de bem estar social, mesmo que este desenvolvimento se reflita em uma ação predatória sobre a natureza e sobre comunidades e povos não integrados à este modelo.

O ecossocialismo que pautou a crítica não apenas ao capitalismo, como ao próprio socialismo não ecológico e à sua lógica também predatória da natureza, sempre foi relegado à um segundo plano dentro das organizações de esquerda, justamente pelo fetiche do desenvolvimentismo e a visão de Estado e economia que as caracteriza.

Michael Lowy, um dos maiores formuladores do ecossocialismo, foi bem claro sobre a necessidade de repensarmos o próprio modelo socialista, a partir do que o sociólogo português Boaventura de Sousa  Santos denominou de epistemologias do sul: “As economias dos países do Sul, da Ásia, África e América latina devem se desenvolver, mas isto não significa copiar o modelo de desenvolvimento capitalista do ocidente e seu padrão de consumo insustentável. Trata-se de buscar um outro modelo, um desenvolvimento ecossocialista, baseado na agricultura orgânica dos camponeses e nas cooperativas agrárias, nos transportes coletivos, nas energias alternativas e na satisfação igualitária e democrática das necessidades sociais da grande maioria. O modelo ocidental não só é absurdo e irracional, mas não é generalizável: se os chineses quisessem imitar o american way of life, cinco planetas seriam necessários.” (2)

E é o próprio Löwy quem avança nesta relação entre ecossocialismo e bem viver como princípios para um outro mundo possível, ao citar uma afirmação do histórico líder indígena peruano Hugo Blanco de que “os indígenas já praticam o ecossocialismo há séculos”.

E esse ecossocialismo dos indígenas nada mais é do que o bem viver, que tem como principais características justamente a harmonia com a natureza, reciprocidade, relacionalidade, complementaridade e solidariedade entre indivíduos e comunidades, oposição ao conceito de acumulação perpétua e regresso a valores de uso.

O bem viver envolve, pois, uma reflexão necessária sobre nossas visões de Estado e economia, ao defender a construção de um Estado plurinacional, comunitário e autonômico, tal como proposto nas recentes constituições equatoriana e boliviana, mas também se contrapor à visão de desenvolvimento e introduzir um debate que tem sido feito também na Europa sobre o decrescimento econômico.
Segundo Alberto Acosta: “A proposta de um novo estado deve incorporar dois elementos-chave: o Bem Viver e os Direitos da Natureza, a partir dos quais devem se consolidar e ampliar os direitos coletivos ou comunitários. Não há contradição com a participação cidadã, pois não se trata de uma democracia que abra as portas unicamente à cidadania individual-liberal: há também cidadanias coletivas e comunitárias. Além disso, os Direitos da natureza necessitam e, ao mesmo tempo, dão origem a outro tipo de cidadania, que se constrói no contexto ambiental.” (3)

Mas o bem viver também envolve outra visão de economia, sustentada em princípios como a solidariedade, sustentabilidade, reciprocidade, complementariedade, responsabilidade, integralidade e autossuficiência. Isso significa uma economia não baseada no produtivismo e consumismo exacerbados pelo capitalismo, cujo limite será a nossa sobrevivência como espécie.

A partir destas reflexões que envolvem não apenas a necessidade de transformação da nossa forma de produzir e consumir, mas principalmente da forma como nos relacionamos entre nós e com a Natureza como um todo, vemos com bons olhos o despertar de setores das nossas esquerdas para a afirmação do ecossocialismo e do bem viver como princípios para aquele outro mundo possível que tanto debatíamos nos Fóruns Sociais Mundiais.

E ficamos ainda mais otimistas ao vermos a crescente aproximação destes setores com os povos indígenas e suas lutas aqui no Brasil, cabendo destacar a experiência dos ecossocialistas do PSOL do grupo Ceará no Clima e do grupo que integro aqui no Rio Grande do Sul, da RAiZ – Movimento Cidadanista, um partido movimento em construção justamente com base nos princípios do ubuntu, bem viver e ecossocialismo.

Isso significa que entendemos que não se trata de entregar o Brasil para os índios, como uma experiência mágica ou uma tábua de salvação para as nossas muitas crises, mas de aprendermos e construirmos junto com os povos indígenas um novo projeto de país, democrático e generoso para com nossa gente.


Referências:
  1. Acosta, Alberto. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Autonomia Literária. Elefante, 2016. Pg. 112
  2. Löwy, Michael. Entrevista ao site do Instituto Humanitas da UNISINOS. 2011.
  3. Acosta, Alberto. Ibid. pg. 157.
Foto: Andre Benites - Retomada Mbya Guarani de Maquiné (RS)
*Marcelo Sares é sociólogo e um dos fundadores da RAiZ – Movimento Cidadanista

Postado também no site da RAiZ - Movimento Cidadanista, no dia 13/03/2017.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Direito ou Obrigação de Julgar - Por Jurandir Silva

Há alguns dias eu estava me dirigindo para almoçar e passei pela Rua General Neto, entre a Marechal Deodoro e a Barão de Santa Tecla. Quem conhece Pelotas e já se achou geograficamente sabe que esta é uma quadra de bastante movimento no horário de almoço em virtude de ser o principal local de concentração dos ônibus que vem e voltam da zona rural.
Aproximadamente no meio da referida quadra avistei um homem que estava na esquina com a Santa Tecla. Ele estava fazendo xixi. Confesso, muito sinceramente, que a minha reação imediata foi de achar meio engraçado. “Puxa, que cara dura fazer xixi ao meio-dia e tanto num poste em pleno centro!”. Na medida em que me aproximei um pouco mais comecei a pensar que com todo o movimento daquele horário, poderia acontecer de passar ali uma criança, ou qualquer pessoa que se sentisse agredida pela cena, e que isso poderia ser um trauma para esta pessoa. Confesso também, muito sinceramente, que neste momento fiquei brabo com o tal homem.
Me aproximei um pouco mais até passar ao lado do homem. Era um senhor de mais de 60 anos, talvez 70. Provavelmente um agricultor aposentado. Ele continuava a fazer xixi e de perto percebi que ele estava com a bermuda completamente encharcada de urina. Entendi que ele tinha segurado a urina até o limite do suportável, e que depois de começar a urinar nas suas roupas ele se dirigiu ao poste para terminar.
Passei pela esquina e comecei a pensar na situação. Pensei que aquele agricultor aposentado deveria ter vindo da zona rural em um ônibus que não tem banheiro. Pensei que moramos em cidades em que há poucos ou não há banheiros públicos. Pensei que há lugares onde há banheiros mas para usá-los é necessário ser cliente. Pensei que já ouvi de muitos dos meus amigos mais velhos que a partir de uma certa idade é muito mais difícil e doloroso segurar o xixi. Pensei na vergonha que aquele senhor estava sentindo por andar todo mijado no centro da cidade. (eu poderia adjetivar Pelotas como uma cidade grande ou média, ou pequena. Isso depende do ponto de vista. Se alguém estiver lendo no Rio de Janeiro, pode dizer que Pelotas é uma cidade pequena. Para quem vem de cidades menores, ou mesmo para este senhor, provavelmente morador da zona rural, Pelotas é uma cidade que pode ser vista como enorme). Pensei que, infelizmente, toda essa situação lamentável pela qual este senhor passou, não anula a possibilidade de alguma criança passar por ali e pela primeira vez na vida ver um pinto e, tendo nós ainda muitos tabus relacionados aos órgãos sexuais, passar por um trauma. Pensei que, infelizmente e independentemente de ser criança, outras pessoas poderiam ver uma parte desta cena e se ofender.

Escrevi tudo o que vi e – acho que – tudo o que pensei sobre este episódio. Desde que ele aconteceu até hoje eu comentei com alguns poucos amigos sobre ele. Agradeço a estes amigos pela audiência e principalmente por terem pensado na questão. Isso me motivou a publicar o que eu vi e o que eu pensei. Não publico para expor o senhor que fez xixi, nem para julgá-lo. Também não julgo quem se ofende ao ver um senhor fazendo xixi na rua. Também não julgo quem vê alguém fazendo xixi na rua e – como primeira impressão – acha engraçado. Não sou juiz. Gosto muito de participar da política e me movo pelas causas e pessoas que me apaixonam. Publico porque tenho visto, principalmente nas redes sociais e com mais frequência do que gostaria, a gente achar que tem direito ou obrigação de julgar, as vezes até vendo uma parte de um episódio, sem observar o que aconteceu antes ou depois. Assim como as vezes a gente acha que tem, direito ou obrigação, de dizer se isso ou aquilo está certo ou errado. Do alto da minha ignorância eu penso que muitas vezes não tem certo e errado e a resposta é depende. Depende se a gente é a pessoa que está indo almoçar e vê um velho mijando e mijado, ou se a gente é a pessoa que não aguenta mais segurar o xixi e faz nas calças.
*Este texto não é uma indireta para uma ou outra pessoa. Ele é uma direta sobre como nós, eu incluso, temos nos sentido com direito ou obrigação de julgar e nos posicionar nas redes sociais. A reflexão pra mim foi útil, espero que possa ser para mais alguém. Se não for, desculpem.



*Texto postado na linha do tempo do Face do Jurandir Silva, que autorizou a postagem aqui.... a mesma faz uma bela reflexão sobre nosso direito de julgar.... Recomendo a leitura e a reflexão! Chris DS