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sexta-feira, 3 de março de 2017

Direito ou Obrigação de Julgar - Por Jurandir Silva

Há alguns dias eu estava me dirigindo para almoçar e passei pela Rua General Neto, entre a Marechal Deodoro e a Barão de Santa Tecla. Quem conhece Pelotas e já se achou geograficamente sabe que esta é uma quadra de bastante movimento no horário de almoço em virtude de ser o principal local de concentração dos ônibus que vem e voltam da zona rural.
Aproximadamente no meio da referida quadra avistei um homem que estava na esquina com a Santa Tecla. Ele estava fazendo xixi. Confesso, muito sinceramente, que a minha reação imediata foi de achar meio engraçado. “Puxa, que cara dura fazer xixi ao meio-dia e tanto num poste em pleno centro!”. Na medida em que me aproximei um pouco mais comecei a pensar que com todo o movimento daquele horário, poderia acontecer de passar ali uma criança, ou qualquer pessoa que se sentisse agredida pela cena, e que isso poderia ser um trauma para esta pessoa. Confesso também, muito sinceramente, que neste momento fiquei brabo com o tal homem.
Me aproximei um pouco mais até passar ao lado do homem. Era um senhor de mais de 60 anos, talvez 70. Provavelmente um agricultor aposentado. Ele continuava a fazer xixi e de perto percebi que ele estava com a bermuda completamente encharcada de urina. Entendi que ele tinha segurado a urina até o limite do suportável, e que depois de começar a urinar nas suas roupas ele se dirigiu ao poste para terminar.
Passei pela esquina e comecei a pensar na situação. Pensei que aquele agricultor aposentado deveria ter vindo da zona rural em um ônibus que não tem banheiro. Pensei que moramos em cidades em que há poucos ou não há banheiros públicos. Pensei que há lugares onde há banheiros mas para usá-los é necessário ser cliente. Pensei que já ouvi de muitos dos meus amigos mais velhos que a partir de uma certa idade é muito mais difícil e doloroso segurar o xixi. Pensei na vergonha que aquele senhor estava sentindo por andar todo mijado no centro da cidade. (eu poderia adjetivar Pelotas como uma cidade grande ou média, ou pequena. Isso depende do ponto de vista. Se alguém estiver lendo no Rio de Janeiro, pode dizer que Pelotas é uma cidade pequena. Para quem vem de cidades menores, ou mesmo para este senhor, provavelmente morador da zona rural, Pelotas é uma cidade que pode ser vista como enorme). Pensei que, infelizmente, toda essa situação lamentável pela qual este senhor passou, não anula a possibilidade de alguma criança passar por ali e pela primeira vez na vida ver um pinto e, tendo nós ainda muitos tabus relacionados aos órgãos sexuais, passar por um trauma. Pensei que, infelizmente e independentemente de ser criança, outras pessoas poderiam ver uma parte desta cena e se ofender.

Escrevi tudo o que vi e – acho que – tudo o que pensei sobre este episódio. Desde que ele aconteceu até hoje eu comentei com alguns poucos amigos sobre ele. Agradeço a estes amigos pela audiência e principalmente por terem pensado na questão. Isso me motivou a publicar o que eu vi e o que eu pensei. Não publico para expor o senhor que fez xixi, nem para julgá-lo. Também não julgo quem se ofende ao ver um senhor fazendo xixi na rua. Também não julgo quem vê alguém fazendo xixi na rua e – como primeira impressão – acha engraçado. Não sou juiz. Gosto muito de participar da política e me movo pelas causas e pessoas que me apaixonam. Publico porque tenho visto, principalmente nas redes sociais e com mais frequência do que gostaria, a gente achar que tem direito ou obrigação de julgar, as vezes até vendo uma parte de um episódio, sem observar o que aconteceu antes ou depois. Assim como as vezes a gente acha que tem, direito ou obrigação, de dizer se isso ou aquilo está certo ou errado. Do alto da minha ignorância eu penso que muitas vezes não tem certo e errado e a resposta é depende. Depende se a gente é a pessoa que está indo almoçar e vê um velho mijando e mijado, ou se a gente é a pessoa que não aguenta mais segurar o xixi e faz nas calças.
*Este texto não é uma indireta para uma ou outra pessoa. Ele é uma direta sobre como nós, eu incluso, temos nos sentido com direito ou obrigação de julgar e nos posicionar nas redes sociais. A reflexão pra mim foi útil, espero que possa ser para mais alguém. Se não for, desculpem.



*Texto postado na linha do tempo do Face do Jurandir Silva, que autorizou a postagem aqui.... a mesma faz uma bela reflexão sobre nosso direito de julgar.... Recomendo a leitura e a reflexão! Chris DS

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