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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Existe cultura no Transporte Coletivo?

Abaixo, trabalho que apresentei à disciplina de Antropologia I, onde fiz o Exercício etnográfico focando nos ônibus do Bairro Laranjal.
Mesmo sendo algo ainda muito amador, acredito ter feito um bom trabalho, e que me rendeu nota máxima no trabalho, tanto apresentação, quanto conteúdo.





UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Instituto de Filosofia, Sociologia e Politica
Curso de Licenciatura em Ciências Sociais

 




Pesquisa Etnográfica para a Disciplina de Antropologia I





Existe cultura no Transporte Coletivo?






christian de souza








Pelotas, 1º de agosto de 2017












Existe cultura no Transporte Coletivo?






Pesquisa Etnográfica que será apresentada ao 
Curso de Ciências Sociais, Disciplina de Antropologia I, 
Universidade Federal de Pelotas, como requisito de 
apresentação de tarefa proposta, para avaliação da Disciplina.




Professor: Lori Altmann










FICHA CATALOGRÁFICA

SOUZA, Christian

Existe cultura no Transporte Coletivo? – Pelotas, 2017.

Nº de páginas: 12

Orientador: Lori Altmann

Trabalho para ser entregue como tarefa – Universidade Federal de Pelotas, Instituto de Filosofia, Sociologia e Politica.

1.     Etnografia; 2. Pesquisa; 3. Transporte Urbano.
 

















APRESENTAÇÃO

              O presente trabalho de pesquisa tem como objetivo principal, o de apresentarmos na disciplina de Antropologia I do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pelotas.·.

              A ideia inicial deste trabalho é o de pesquisar A CULTURA de quem utiliza o transporte público e coletivo para se locomover, nos diversos destinos, tentando verificar se esta atividade pode ser classificada como um ponto de cultura e se podemos desta forma estabelecer alguma relação comunitária nesta ação.
             
              Como não disponho de tempo hábil para realizar tarefas de campo, devido ao fato de exercer uma jornada tripla, divididas em tarefas realizadas na empresa que trabalho, em casa e na faculdade, acabei optando por tentar verificar se existe alguma ligação que podemos analisar durante o trajeto que percorro diariamente entre a Faculdade e a minha Residência.

              Os relatos que serão aqui colocados usarão de nomes fictícios, uma vez que não obtive a devida autorização para realizar tal tarefa. Parto da ideia de primeiramente observar com um caráter investigativo os hábitos e a forma que as ocorrências aconteciam.
             
              Somente em um segundo momento, acabei interagindo com algumas pessoas no intuito de perceber seus anseios e daí chegar às devidas conclusões deste estudo.


1     Introdução

 

              O presente trabalho tem como obgetivo o de tentar investigar se os usuarios do Transporte coletivo¹ podem ou não formarem uma comunidade, e que tipo de comunidade a mesma seria. Com intuito de analizar utilizando de ferramentas aprendidas na literatura etinograficas, parto do principios de observar somente um determinado periodo, do qual por motivos que mostrarei adiante se tornam obvios.
              Os usuarios do transposte coletivo que tem origens diversas, acabam de alguma forma e em algum momento do dia, utilizando-se dos ônibus como forma de locomoção. No entanto, este trabalho quer ultrapassar a barreira de que este é só mais uma etapa do cotidianos destas pessoas e tentar verificar a existencia de convivio comunitario ou formação de cultura.
              Minha pesquisa, mesmo que pareça superficial, ela pode apresentar uma nova pespectiva de percebemos este momento que trabalhadores, estudantes e outros vivenciam diariamente.
              Foquei minha analise no periodo da noite, mais precisamente nos horarios que compreendem das vinte e uma horas às vinte e duas horas e trinta minutos. A linha esolhida foi a que transporta passageiros do centro de Pelotas para o Bairro Laranjal.
              O motivo de utilizar este periodo e este intinerario, é justamento por ser o que eu utilizo diariamente quando saio da Universidade, pois seria este o único momento que disponho em minha jornada que chamo de tripla, para realizar a pesquisa de campo.
              Claro, que não foi escolhido ao acaso, pois a muito tempo reflito sobre o que passas na cabeça de cada um neste momento em que estão no transporte coletivo, o que pensam, o que imaginam, quais os planos e quais os principais temores.
              Desta forma uni a minha já existente curiosidade, com a tarefa de realizar o presente trabalho para a apresentação.
              Tentarei, ainda que de forma amadora utilizar os conhecimentos aprendidos nos textos de Clifford Geertz², que defende a necessidade de se realizar uma descrição densa para que eu possa descrever os valores quantitativos, qualitativos, sonoros e visuais.


2            DO LOCAL


              Diferente de local de moradia ou de permancia de um povo ou comunidade, o local pesquisado trata-se um um espaço de transição de diferentes origens para destinos também diversos. Mas mesmo sendo um local de transição é possivel realizar a descrição detalhada do mesmo.
              Com a nova regra do transporte coletivo de Pelotas baseado na ultima licitação, os veiculos seguem o mesmo padrão. Todos os passageiros entram pela porta da frente, que fica proximo ao motorista que controla o “embarque”³. Ainda nesta parte considerada  frontal do ônibus localizam-se em media de sete a nove acentos, que normalmente ficam reservados a gestantes, idosos e portadores de alguma deficiencia. Os demais passageiros utrapassam a catraca, onde esta localizada o acento do cobrador do coletivo. Alguns coletivos dispoe de local para caderante e nestes casos as portas para saida dos passageiros se localizam no centro dos coletivos. Os demais coletivos a porta de saida fica na parte traseira do veiculo.
              As portas, indiferentes de qual que seja, ficam localizados no lado direito de quem olha por trás do veiculo4. Neste mesmo lado é onde fica localizado o cobrador. O motorista por sua vez fica ao lado esquerdo. Os acentos ficam dispostos de dois em dois de cada lado de um corredor central. As cores predominantes são o cinza, amarelo e  azul.


3            DAS ANALISES


              Primeiramente, fiz uma analise do comportamento, tentando perceber  costumes similares dos diversos usuarios do transporte coletivo. Mesmo tendo as mais diversas origens, e perceptivel alguns rituais que condizem com a tese  de  haver  uma forma de cultura ou comunidade que envolve a todos neste momento.
              As pessoas costumam na maioria ocuparem os mais diversos acentos, optando pelo lado da janela e deixando o acento dos corredores vagos. Mesmo quando as pessoas interagem, elas acabam sentando em acentos separados. Quando as mesmas são da mesma familia, ou então em alguns casos mais especificos acabam sentando lado-a-lado para manter um dialogo  mais concistente.
              Tem grupos que interagem muito com o cobrador e com motoristas. É possivel perceber que existe conhecimento fora do ambiente do trasnporte. No entanto é perceptivel o isolamento de alguns individuos.
              Uma coisa que percebi no primeiro dia (noite) de pesquisa é que poucas pessoas utilizavam celurares de foma visivel. Ou seja, algo que hoje é comum em todos os ambientes, neste em especifico o percentual era quase inexistente.
              Minha primeira noite de observação se deu no dia vinte e oito de junho, peguei o onibus que saiu da Galeria do Laranjal5, eram vinte duas horas e trinta minutos. O ônibus com quase todos os acentos preechidos. Fiquei meio apreensivo, pois a comunicação dentro do coletivo era quase minima, oque me remetia a desistir de fazer esta analise. Pois neste momento não havia a minima forma de existir uma cultura ou algo que podesse perceber a existencia de um tipo de costume. Mesmo assim continuei a analisar.
                       Com o olhar investigativo, me pus a cuidar toda a movimentação dos passageiros. Neste momento percebi que poucos usavam o celular e os que usavam, o faziam de forma mais comedida ou discreta.
              Conforme o ônibus percorria seu trageto, pessoas subiam ou desciam do mesmo e esta caracteristica de dialogos comedidos e pouco uso de celular se mantiam.
              Ao tempo que realizei esta analise, peguei este mesmo horario mais algumas vezes, e muito pouco de alterações eram percebidas.
              Certa vez6, eu perdi o ônibus deste horario, tive que esperar o proximo que era somente pós vinte três horas. Nesta noite acabei conversando com outra pessoa que aqui irei chamar de João, que me explicava sua rotina e seus temores. Percebi que neste horario, com bem menos passageiros o silencio era algo incrivel. A cada embarque ou desembarque do coletivo todos olhavam ao mesmo tempo para tentar identificar quem subia ou descia do ônibus. Parecia que todos estavam também realisando a minha pesquisa.
              Só compreendi esta situação, quando passei a pegar ônibus em horários em torno das vinte e uma horas. As pessoas estavam mais descontraidas, a utilização de celulares eram mais visiveis, era possivel escutar risadas e muito mais interassões entre todos dentro do onibus.
              Sábado, dia quinze de julho, peguei o ônibus com sentido inverso, ou seja, com saida do bairro e destinado ao centro. Eram oito horas da manhã. Precisava analisar com outros olhos e outros horarios para confirmar minhas suspeitas. O ônibus com certa lotação, havendo pessoas em pé, pois todos os acentos estavam ocupados. Mas a interação era grande, e a grande maioria estavam com celulares nas mãos. Ouve um momento que até foto foi feita, umas mulheres que estavam juntas conversando, duas sentadas e outras em pé registraram imagens, talves para postar em alguma rede social aquele momento.
              Algo que não fazia parte da minha pesquisa, mas me chamou a atenção foi quando alguns homens precisavam se deslocar por entre as demais pessoas para poder descer do ônibus. Mesmo não me parecendo haver por parte destes senhores malicia, percebi que as mulheres em sua totalidade arredavam-se mais do que no momento da passagem de outras mulheres. Não preciso detalhar mais, acredito que todos que lerem este trecho saberão o que aconteceu e as devidas motivações.
              Voltando então para a pesquisa, minhas compreenção da realidade social recorrente no transporte publico tomava corpo e me remetia, mesmo que de forma ainda muito superficial visto que não tratava de um estudo estatistico, à existencia de algo de concistente na pesquisa ou neste campo pesquisado.
              Outras percepções que fora anotadas no meu emprovisado diarios de campo, foi quanto aos odores do local. Em um determinado ponto do trageto subia ou embarcavam no coletivo mulhres que era facilmente perceptivel tratarem se de pessoas que trabalhavam com alimentação, visto que o cheiro de fritura propagava no ar. Outro cheiro que me chamou a atenção, foi na noite que peguei o ônibus mais tarde, dois rapazes que embarcaram juntamente comigo no ponto inicial (Galeria do Laranjal), e que acabaram sentando-se no acentro atrás do meu, isalavam cheiro de bebida alcolica. Outro cheiro que percebi uma única noite, e este eu não anotei em qual ocasião, foi o cheiro de cloro de uma senhora negra.
             
4            DOS RELATOS

              Durante esta minha pesquisa conversei mais significativamente com três pessoas. Uma mulher e dois homens, que confirmam e explicam as minhas colocações e observações já colocadas neste presente trabalho.

              1° - Transcrevo neste momento o relato realizado por João (nome ficticio como já explique anteriomente), que me fez quando ainda estavamos esperando o ônibus que saia da Galeria Do Laranjal por voltas das vinte três horas. O mesmo me relatou que certa vez no mesmo horario dois homens em uma moto passaram bem devagar pelo local, fizeram a volta na quadra e assim que retornaram ao local efetuaram um assalto coletivo. “Devia ter umas quinze pessoas no horario” e mesmo elas não estando concentradas, os homens abordaram uma a um com muita “agilidade levando celulares e dinheiros de todos aqui se encontravam”. Este mesmo rapaz que aqui estou chamando de João, me relatou certa vez que o onibus estava em uma rua perpendicular aguardadndo o horario de seu correto posicionamento e foram supreendidos por outros dois homens de moto que adentraram  coletivo que estava vazio, ou praticamente vazio uma vez que no local havia somente o motorista e o cobrador e alem de seus pertenses pessoais, como celular, relogio, carteiras e outros, levaram também o pouco dinheiro que havia com o cobrador referente a arrecadação ou troco de trabalho. “A cada moto ou bicicleta que se aproximava mais assustador fica o relato do João”.
              2° - O segundo relato é da Maria7, ela uma adolescente que desceu no mesmo ponto de ônibus que eu. Não perguntei idade e nem outros detalhes para não ser invasivo. Falou que tem medo do horario, mas que esta acostumada, relatou que nunca foi assaltada, no entanto já escutou varias historias de amigos e conhecidos que fora assaltado na Galeria ou então ao descer do ônibus. Não costuma usar o celular na rua para não chamar a atenção e não carrega com ela nenhum documento desnecêssario com a prerrogativa de temer o assalto.
              3° - Este relato é incrivel, pois o senhor de pouco mais de cinquenta anos que chamarei aqui de Pedro8, desceveu com certo detalhe sua experiência. Em um certo dia que estava fazendo este mesmo trageto. Acabei não anotando no momento e acabei esquecendo o horário que ocorrerá sua experiência. O mesmo disse que vinha até que tranquilo no interior do ônibus, quando um passageiro deu o sinal para descer no ponto que fica na cabeceira da ponte sobre o Arroio Pelotas que é ponto de referencia como marco divisor do Bairro Laranjal do restante da cidade. O motorista obviamente parou o coletivo no local para alem de supostamente descer o passageiro, mas também para fazer o embarque de outro que estaria no local. Tão logo este subiu no ônibus, anunciou o assalto, e o passageiro que estava pronto para descer também sacou a arma e anunciou conjuntamente o assalto, onde foram levado varios pertenses dos passageiros que entre outras coisas os celulares dos mesmos. Ambos desceram do ônibus e pegaram a moto que estava por ali escondida e fugiram na contramão.

5            CONCLUSÃO

A experiência social humana consiste da apropriação de objetos de percepção por conceitos gerais: uma ordenação de homens e dos objetos de sua existência que nunca será a única é possível, mas que, nesse sentido, é arbitrária e histórica. (SAHLINS, 1990, p. 181)

              Pego esta passagem do texto do Marshall Sahlins9, para tentar justificar em parte o intrumento de minha pesquisa. Tento perceber atraves de uma analise criteriosa, investigar se existe uma apropriação historica na construção de uma cultura neste espaço que compreende o vai e vem do transporte coletivo. Para de alguma forma demosntrar que a questão da constituição de cultura não perpasa tão somente por povos e comunidades, mas parte da percepção que precisamos ter que cultura esta em toda a parte.
              Nesta minha pesquisa, mesmo que feita ainda de forma amadora, e com pouco tempo de observação, percebo que existe no transporte coletivo a formação de cultura o que comprova a minha pergunta inicial. No entanto, podemos classificar a formação de cultura como algo em constante construção, e que pode ser de comunidade fixa, em caso de povo ou territorio, mas também cultura de transição, onde os diversos individuos que em um determinado momento viverem a mesma experiencia constitue uma só comunidade.
              Em minha observação percebo que no momento que os individuos estão dentro do ônibus, convivem com os mesmos anceios e medos. Anceio de chegar em seu destino de forma rapida, usando este tempo para estudar, para interagir, descansar. Dividem do mesmo medo, o do assalto, do atraso, da integridade fisica.
              Classifico está comunidade como Cultura de Transição, pois os mais diversos individuos, das mais diversas origens, em um dado momento compartilham dos mesmos sentimentos o que a colocam no mesmo patamar de igualdade. Neste curto espaço de tempo de convivencia não importa se tens ou não dinheiro, pode até não simpatizar com a pessoa ao lado, mas estão vivenciando a mesma experiencia, claro, cada um com sua bagagem de experiencia das mutiplas culturas que vivenciam diariamente.

A etnografia é mais do que um conjunto de métodos, técnicas de coleta de dados, procedimentos de análise ou descrição de narrativas. É uma abordagem sistemática, teoricamente orientada para o estudo da vida diária de um grupo social, e que envolve uma fase de planejamento, uma fase de descoberta e uma terceira fase de apresentação dos resultados. (Zarharlick e Green, 1991, p3).

              Baseado nesta citação acredito que mesmo com a minha pequena experiência, e com o campo de pesquisa escolhido, tenha conseguido de alguma forma desenvolver esta analise e observação com bastante sucesso, e penso que pode até ser um ponto de partida para estudos mais detalhados sobre a Cultura de Transição que cheguei à conclusão existir.



NOTAS

       1                                                                                                                                                                                 Entende-se ônibus e coletivo como o mesmo objeto da pesquisa
2      Clifford Geetz, em A Intepretação da Cultura no capitulo 1 na pág. 13.
3      Linguagem muito utilizada nos transportes coletivos que simboliza ou descreve a entrada dos passageiros no veículo.
4      Conforme linguagem utilizada por profissionais em veículos, a descrição de lado sempre é determinada olhando de trás para frente ou pela visão do condutor/motorista.
5      Galeria do Laranjal é como conhecemos o local de ponto de partida dos ônibus com destino ao Bairro Laranjal
6      Por não lembrar a data da ocorrência, mas lembro de que a aula foi até mais tarde, me levando a perder o ônibus.
7      Nome fictício dado à mulher com quem conversei.
8      Nome fictício ao qual identifico o terceiro relator de sua experiência.
9      Marshall David Sahlins é um antropólogo dos Estados Unidos. Recebeu os títulos de bacharel e de mestre pela Universidade de Michigan.




REFERÊNCIAS

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

SAHLINS, M. Ilhas de História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1990.

ZARHARLICK, A.; GREEN, J. Pesquisa etnográfica. Em: FLOOD, J. et al. (Eds.). Manual De Pesquisa no ensino das artes da língua inglesa. Nova Iorque: Macmillan, 1991.

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